quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A deficiência dos cursos de Administração e o papel das empresas juniores

Apesar de encontrarmos bons conteúdos nos cursos de Administração, estamos formando Administradores despreparados, tendo como causa a falta de vivência oferecida pelas instituições. Observa-se, entretanto, uma solução que pode ser simples e imediata: a empresa júnior.

Assim como em outras graduações de Ciências Sociais Aplicadas, podemos observar ricos conteúdos programáticos nos cursos de Administração, abrangendo o máximo de estudo das vertentes da sociedade e das tecnologias de gestão. Ao mesmo tempo, encontramos grande quantidade de docentes e coordenadores renomados e experientes que proporcionam maior efetividade na didática da transmissão desses conhecimentos. Essas são, portanto, características que determinam a eficiência das instituições que oferecem o curso e o cumprimento do conceito de um ensino de qualidade. Porém, falta encontrar sua eficácia.
De modo geral, nos deparamos com um cenário deficiente no que tange à formação final de profissionais da área de Administração. Possivelmente, você está se perguntando: "Se já tem bom conteúdo e professores renomados, o que há de errado?". A resposta é: reconstrua o seu conceito de medição do nível de ensino da Administração. O ato de administrar não é apenas planejar. É preciso organizar, controlar, coordenar e comandar. Esses imperativos só se aprendem com a prática; e, então, alcançamos o ponto fraco dos cursos. Onde está a vivência dos discentes e, portanto, dos futuros administradores? É raro encontrar um curso que, por exemplo, transmita o que fazer para simplesmente abrir uma nova empresa, apesar de ter como um dos seus objetivos o estímulo ao empreendedorismo e à criação de novos negócios de sucesso. Ou seja, estamos proporcionando cursos eficientes, com bons conceitos gerais, mas nada eficazes, com a formação de administradores despreparados e ingênuos.
Outrossim, é compreensível e aceitável o nível de dificuldade dos cursos em correlacionarem vivências tão singulares e subjetivas da área de administração com os seus conteúdos teóricos. Para tanto, existe uma ferramenta que cumpre essa deficiência e que agrega valor a todos os envolvidos: a Empresa Júnior. Curiosamente ainda desconhecida por muitos, registros apontam o seu surgimento em 1967 na ESSEC (L'Ecole Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales), em Paris na França, com ingresso no Brasil em 1988, através da Fundação Getúlio Vargas. Em linhas gerais, trata-se de uma associação civil sem fins lucrativos e com fins educacionais criada e gerenciada exclusivamente por alunos do ensino superior, devendo estar sempre ligada a um ou mais cursos de graduação. Sua principal finalidade é a criação de oportunidades para o exercício de atividades fins do curso ainda durante o período acadêmico.
O conjunto de sua realização é chamado de "Movimento Empresa Júnior - MEJ" e, de acordo com a Brasil Júnior (Confederação Brasileira de Empresas Juniores), hoje existe mais de 27 mil universitários de diversos cursos participando de, aproximadamente, 1.100 empresas distribuídas em quase todos os estados representados por federações, desenvolvendo mais de 2.000 projetos anualmente, tendo como maioria do público atendido micro e pequenas empresas. Além da sua responsabilidade social e intelectual, estas empresas dinamizam a microeconomia e podem gerar receitas para seus participantes, de acordo com as políticas internas de projetos desenvolvidos. Entretanto, ­além do desconhecimento que ainda existe, muitas barreiras são impostas quando da criação de empresas juniores. Muitas instituições não valorizam o Movimento e não promovem os investimentos básicos necessários. Além disso, encontramos docentes que não colaboram e, até mesmo, os discentes que não se interessam em participar.

Com base nisso, ficam aqui os seguintes recados:

Às instituições de ensino de administração: Evoluam! Atualizem-se quanto ao processo de formação e estruturação de uma empresa júnior e invista. Poderão manter uma poderosa ferramenta que agrega valor vivencial aos seus cursos e criarão um valioso objeto de marketing. Possuir boas empresas juniores dentro do ambiente acadêmico significa ter uma gestão arrojada, atualizada e com efetiva preparação dos seus discentes;
Aos docentes dos cursos: Vocês são peças fundamentais para o sucesso dessa ferramenta. Incentivem e participem. Os professores parceiros são chamados de orientadores e precisam dar aval aos projetos e atividades desenvolvidas pelas empresas juniores de acordo com as exigências do Movimento. Os efeitos de uma empresa júnior sobre o corpo discente são rápidos e positivos. Ampliando a vivência, há uma melhoria na qualidade das discussões e eleva-se o interesse pelas aulas. Além disso, vocês ficarão mais próximos deles, melhorando o ambiente de ensino e, consequentemente, a sua auto-estima.
Aos estudantes e futuros administradores: Não percam tempo! Se os seus cursos ainda não possuem uma empresa júnior, reúnam os interessados, pesquisem e desenvolvam este negócio. Além de lhes oferecer oportunidades para desenvolver toda a teoria absorvida através das disciplinas do curso, vocês terão experiência profissional antes mesmo de entrar no mercado de trabalho. O resultado disso é o desenvolvimento intelectual, um melhor entendimento quanto às práticas de mercado e o início da formação de networks. E, acreditem, uma boa experiência em uma empresa júnior transforma-se em um grande diferencial na conquista de bons estágios e empregos.
Às empresas juniores de administração: Sejam dinâmicas, busquem apoios e profissionalizem-se. Vocês não são empresas em incubação. É preciso ter estrutura, processos, pessoas e linhas de atuação bem definidos e dentro dos padrões reconhecidos de qualidade. Façam o encantamento de seus clientes e os proporcionem novos patamares de crescimento. Sejam persistentes – e não insistentes – ao enfrentar adversidades. Promovam uma gestão participativa e inovadora, preocupando-se com o desenvolvimento de competências de cada membro e com a ascensão de seus cursos perante comunidade e mercado. Lembrem-se que, já que são formadas por futuros administradores, além da produção perfeita de seus produtos e serviços, sua gestão deve ser exemplar, o que fornece, por si só, o puro exercício da profissão: o gerenciamento.
É importante, no entanto, que seja girado o PDCA dos cursos de administração para alcançarmos um cenário superior e efetivo em relação aos seus objetivos, assunto este a ser discutido em outra oportunidade. Com os recados dados, espera-se que seja estimulado o interesse e que se busquem informações mais específicas sobre as empresas juniores.

Fonte: SANTOS, R. H. M. A deficiência dos cursos de Administração e o papel das empresas juniores. Arq. Texto. Site ADMINISTRADORES. Jan. 2011. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-deficiencia-dos-cursos-de-administracao-e-o-papel-das-empresas-juniores/51216/>. Acesso em: 13 jan. 2011.

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